20/04/2009

Desabafos

Não queria ter de voltar a escrever o que quer que fosse, não por estas razões. Não é fácil voltar ao mesmo, tentar acreditar numa justiça imposta, quando a injustiça duma vida paralela ao sentimento assalta o pensamento, enchendo-o de vontades, de emoções, desejos e sensações.
Os dias voltaram a escurecer, como se a luz da tua presença se apagasse, deixando de iluminar o caminho que nos acompanhava. É certo que o continuamos a percorre-lo de mãos dadas, sempre com um sentimento presente nos olhares mútuos, espontâneos, mas com uma ideia contrária à vontade. É a maldita injustiça das vidas que se cruzam, destinadas a não se encontrarem. E, por um acaso delicadamente precioso, nos mantemos um ao lado do outro sempre a sorrir. E é o teu sorriso que me dá a certeza da vitória final. Vitória moral, física ou apenas sentimental, o certo é que o sentimento que nos une não esmorece a ânsia de um futuro apenas a dois, independentemente da nomenclatura que lhe atribuis. E não é por um passado sombrio que se faz manter presente no pensamento, que o sentimento que te falo e que bem conheces (também o tens presente) deixa de existir. Apenas se esconde com receio de sair magoado no final da história. E nesse final que te falo, talvez o possas sentir… Talvez percebas a sua importância para o desenrolar da história toda… Talvez o possas usar como catapulta que envie o passado para o seu lugar: um canto refundido nos confins da história da tua vida… Essa, mais importante que qualquer outra coisa no meio destas palavras todas é reflexo daquilo que realmente sentes, e aí, depois de o perceberes, talvez possas sorrir completamente… Esse sorriso pelo qual me fascinei, pelo qual corri e pelo qual continuo a correr como se fosse o primeiro dia.
Por agora, deixa-me ser reles e vulgar, deixa-me meter contigo. Apetece-me um piropo já muitas vezes repetido. Apetece-me ver-te sorrir com parvoíces minhas, como as primeiras. Apetece-me fazer-te esquecer de tudo menos do teu coração:

“Acreditas no amor à primeira vista ou preciso de passar à tua frente outra vez?”


João Amorim

[20-04-09]

31/03/2009

Protesto!

Que quisesse eu partir
se em mim não restasse mais que solidão,
seria então a resposta
a mais uma sensação.
E, no entanto, por não querer,
talvez por pura teimosia,
ou mesmo porque sentia
que afinal não seria justo perder.
E no fim dos tempos
alguém me dará razão,
só porque decido ouvir o coração...

[23-03-09]

17/02/2009

"Gosto de palavrar"...

Mais um motivo para me dizeres outra vez toda aquela história do "meu amigo das múltiplas personalidades". Já ele o dizia: "gosto de palavrar"... E eu, como ele, gosto de brincar com as palavras... Mas só porque sorris, só porque as palavras são tuas... Tu bem o sabes, tal como sabes que te alimentas desta minha maneira de te dizer o que sinto. Porque uma palavra corresponde a um sentimento. E agarrado a esta ideia deixo que o texto se crie por si só, sem interferir na sua evolução. Já não sou eu que o controlo (nem tu, bem sei), é aquilo que nos torna um em Nós. E assim vamos correndo sem nos cansarmos.
Algum tempo atrás dizia-te que já não havia nada para inventar, era tudo recriado a partir do uso repetido das mesmas ideias... Hoje posso dizer que talvez não seja assim. Apesar das palavras serem idênticas, o sentimento evolui e, assim, vou deixando que a tinta da caneta continue a jorrar (incansavelmente e constantemente) para que tudo seja recriado, como uma nova manhã, tal como a de hoje (bonita e simples) que desponta depois de uma noite fria.
E nesta recriação me perco, sempre junto a ti... Procro novas linhas e traços, sempre sem te perder de vista. Porque o mais importante é a maneira como nos unimos, é a comunhão de ideias tão diferentes que se complementam num simples sorriso.
Sorri mais uma vez minha princesa e mata-me nesta loucura, neste turbilhão de sentimentos. Não te assustes com estas expressões, até porque são reflexos da tua vivência em mim. São nada mais que sonhos conjuntos, jogos e brincadeiras a dois.
O melhor disto tudo é que no final sorris com esta oferta, e eu delicio-me ao ver o teu sorriso. Tu sabes disso e tornas a situação num ciclo vicioso. Acabo por me aproveitar e brinco outra vez com as palavras. Já dizia o poeta:
"Gosto de dizer. Direi melhor, gosto de palavrar."

[14-02-09]

07/02/2009

Punhado de tentativas...

Tento ser lamechas, numa necessidade de te chamar a atenção, de te chamar à razão... Tento ser simples para, no fundo, não complicar algo inexplicavelmente duma complexidade básica e de solução imediata... Tento apenas ser teu, ser nós, na rotina apressada e imprevisível do andamento da vida (nossa)... Tento o teu sorriso, criador de obras únicas e eternas como aquilo que nos une e que eu tento gravar com a tinta desta caneta... Tento apenas que tu sejas tu na completa integridade da tua pessoa que se revê nisto que te escrevo... Tento apenas que sejamos nós, reis daquilo que criamos...



Fecha os olhos amor meu,
sente a brisa que se levanta.
Ouve o suspirar do coração teu,
ouve apenas a música que o meu sonho canta.

Só mais uma noite que passou,
mais uma viagem percorrida...
Mais uma nota que se entoou,
mais uma vitória numa guerra quase esquecida.

Agarra o mundo que agora te ofereço...
Não te assustes, cabe na palma da minha mão.
Só mais uma coisa te peço:
nunca deixes de ouvir a tua canção...



[07-02-09]

02/12/2008

Razão de ser(es)...

Sabes, quando era miúdo sonhava que um dia, quando fosse grande, pudesse vir a ser um homem importante... Sonhava em ser bombeiro ou policia... O sonho fazia-me viajar por mundos de fantasia, pelas histórias que me contavam...
À medida que a criança deixava as miudezas e ganhava centímetros, mudavam os sonhos mas sempre com meta nas grandezas... Fui aprendendo que a importância estava no gosto de ser. A partir daí sonhava em ser feliz! Foi então que apareceu a arte, primeiro com os esboços tremidos e o incentivo de quem entendia, depois as notas musicais e as melodias que me mostravam... O processo de aprendizagem evoluiu rápido e com sede de crescer...
Em seguida vieram as primeiras paixonetas e com elas as primeiras palavras, a tinta gravada no papel... Histórias de mágoas e desilusões eternizadas num amontoado de folhas borradas com excessos de tinta.
Era a maneira de amadurecer... Até ao dia em que apareceste. Timidamente, as palavras tornaram-se tuas, as notas eram compostas por ti e os traços, esses, eras tu que os ordenavas e colocavas no papel, colorindo as histórias que construías... Aprendi que afinal já era grande, útil, importante... Tornei-me a expressão da minha vontade, a arte que encontra em ti a sua razão de existir...

[02-11-08]

18/11/2008

Apetite de hoje...

Hoje apetece-me ser lamechas...
Apetece-me voar bem alto e gritar, gravar o teu nome na árvore do jardim da frente... Olhar o céu e encontrar o teu sorriso em cada estrela... Fugir de tudo e abraçar o sol... Apetece saltar e correr, sorrir e desenhar, sonhar e escrever...
Hoje apetece-me ser finalmente eu... Ouvir-te rir e deixar-me guiar pelo mundo da tua poesia... Apetece-me ser a tua canção, hoje simplesmente me apetece ser João.
Hoje apenas me apetece este sentimento: ser criança e não pensar.
Hoje apetece-me ser teu, porque ontem não me conhecia e amanhã não sei o que vai dar...

[18-11-08]

01/11/2008

(A) Velha Canção

Perdoa meu amor, todas as palavras que te escrevo, as linhas que construo e os traços que vou rabiscando, as melodias compostas numa simples entrega, tudo atafulhado num só sentimento. Perdoa todos os Ses que coloco na tua cabeça... Perdoa os desaires de um afastamento indesejado... Dá-me apenas aquilo que mereces, tudo o que tentas lutar. Dá-me espaço na tua preocupação. Deixa-me partilhar as lágrimas que tentas esconder...
Tudo aquilo que mostras, és apenas tu! E na simplicidade do nosso ser é que mora o coração, aquele que partilhamos e do qual celebramos, meio às escondidas, como se de um segredo se tratasse.
Tenho o mundo para te dar. Pelo menos o meu... Recebe-o como teu que é. Fecha os olhos e envolve-o num sorriso, esse mesmo que agora mostras, e deixa-o respirar, entrelaçando-o no teu...
Mata-me só uma última vez, mas morre comigo e aceita o convite nesta viagem que te proponho.
Não vejas isto como uma canção triste, encara apenas como uma luta por um fim mais eterno!

[30-10-08]

15/10/2008

Teimas viciadas...

(...)
-Trenguita...
-Totó...
-Gosto de ti!
(...)


E assim começava mais uma teima, mais uma brincadeira ao som desta melodia que nos une num ciclo que nos deixou viciar... Apesar dos medos continuamos a correr como se fosse a primeira vez, aquela do sorriso matreiro, do olhar inocente... Dá-mo outra vez, espelho do meu olhar, do meu sentimento e luz do teu...
Sorri com mais esta sequência melódica numa (anti)métrica simetria desta composição frásica dos teus olhos, longe do pensamento, alojada apenas no nosso sentimento, no nosso mundo...
Deixa-me ser teu e morrer uma e outra vez nesses teus olhos cor de chocolate!

[14-10-08]

Correrias

Soubesse eu que teria que correr assim e talvez tivesse pensado duas vezes. Ou talvez não, e faria tudo igual: as mesmas palavras, os mesmos traços, os mesmos sorrisos… Só pela certeza duma dança a dois numa melodia simples… Tu simplesmente sorris, só porque tens a certeza do que te entrego: nada mais que um simples sentimento… Fazes mais uma expressão dessas que me fizeram chamar-te de menina da cara de anjo… Expressão essa que me dá alento para continuar a correr… Correr para ti, correr por ti, por nós, por qualquer coisa que nos faça fechar os olhos e continuar no nosso mundo…



“Se alguma vez te parecer ouvir coisas sem sentido
Não ligues, sou eu a dizer que quero ficar contigo.
E apenas obedeço, com as artes que conheço,
Ao principio activo que rege desde o começo
E mantém o mundo vivo…

Se alguma vez me vires fazer figuras teatrais
Dignas de um palhaço pobre, sou eu a dançar a mais nobre
Das danças nupciais em minhas plumas cardeais,
Em todo o meu esplendor, sou eu, sou eu nem mais,
A suplicar o teu amor…

É a dança mais pungente,
Mão atrás e outra à frente,
Valsa dum homem carente.
Mão atrás e outra à frente,
Valsa dum homem carente”

[11-10-08]

03/10/2008

Simplicidade

Mata-me outra vez, deixa-me sem palavras, sorri e envolve-me no teu abraço... Nada mais te peço, só o teu mundo, associado ao meu numa comunhão perfeita de duas vidas imperfeitas... Deixa-me mudo com a tua falta de palavras após mais uma oferta minha. Mais um rabisco ou uma frase que seja, é-te entregue embrulhado num sentimento único... Até porque já não tenho mais nada a inventar, só mesmo mais um sinónimo para tantas palavras já usadas. E assim te entrego mais uma carta, um depoimento, um conto, uma história igual às anteriores: eu e tu como um só... Histórias simples e únicas num mundo criado para nós, para que o compliquemos para depois, tipo cálculo matemático, depois de desenvolvido, o simplificarmos.
E num jogo perfeitamente calculado e pensado, para, futuramente, não pensar e apenas sentir, me ofereço uma vez mais na minha imperfeição...
Chamem-me lamechas, melado, roto, visionário, lunático, maniento, engatatão, ou mesmo mariconço... Apenas me chamo como tu me chamas, apenas me chamo João...

[03-10-08]

01/10/2008

Posso?

“Posso-te roubar um beijo?”

Era tudo o que te pedia
De todas as vezes que te via…
E mesmo que a tua razão o negasse,
Mesmo que me perdoasse
Esta gentil indelicadeza,
O teu olhar dava-me a certeza
Que por muito que tentasses,
Ou mesmo que negasses,
Nada mais fazia sentido…
De tudo o que já tinhas ouvido
Só uma coisa importava,
O jogo que criava
Dava-te luz para acreditar.
E na ânsia de lutar,
Por algo que só a vós interessa,
Basta, sem pressa,
Apenas serem Um…


[01-10-08]

25/09/2008

A 25... (the 4th)

O silêncio reinava naquele espaço, habituado a tantos devaneios e sonhos... Pensamentos carregados duma mistura de vontades e memórias percorriam-lhe a cabeça a uma velocidade estonteante. Tu há muito que te tornaras presença assídua, tão doce e mortal como algo proibido. No entanto, a distância (curta, é certo, e ao mesmo tempo tão grande) era servida como um martírio. Mesmo assim continuava a sorrir. Lembrava-se do primeiro dia, o vigésimo quinto de há uns meses atrás, da troca de sorrisos inocentes, do piscar de olho simples, fugaz e implacável. Sorria ao pensar como seria fácil voltar ao início e recomeçar o jogo... Apetecia-lhe criar mais um "era uma vez", deixar-te sem palavras com todas as palavras que a tinta marcava o papel. Palavras essas com que te deliciavas, sorrias e teimavas em não ligar ( ou apenas mostravas, apesar da ânsia de as receber). Era tão mais fácil fechar os olhos e deixar-se vaguear pelo vosso mundo, criado por ambos numa atmosfera sonhadora, livre de tudo e feita por e para vós apenas...
Ele agarrava-se com unhas e dentes a todas as imagens que tinham sido criadas para um dia voltar a ver-te sorrir totalmente. E mostrava-te como era simples construir um castelo sem perder a noção do chão. Tu sorrias mais uma vez tentando vencer o medo.
E mais uma vez escrevia para ti... Ele tornava-se agora completamente teu... Mostrava-se em mim, cansado duma história na terceira pessoa. Era eu quem não queria deixar de sonhar, de te ver sorrir. Ofereço-te agora a minha mão e tudo o que nela cabe... O meu sorriso, o meu chão, o teu olhar espelhado num sopro quase imperceptível do meu suspirar por uma história inacabada. Ofereço-te o meu mundo mais uma vez (e quantas vezes for preciso oferecer), porque eu sou, finalmente, nada mais que ele e os contos à sua volta... E teu é o seu (meu) coração!

"Well open up your mind and see like me
open up your plans and damn you're free
look into your heart and you will find that the sky is yours

so please don't, please don't, please don't,
there's no need to complicate,
Cause our time is short
This, this, this is our fate,
I'm yours"



[25-09-06]

26/06/2008

26-06-08

Bastava uma palavra e tu já sabias o que irias ler... A escrita dele não tinha mais segredos para ti, mas mesmo assim continuava a surpreender-te, continuava a fascinar-te. Ensinava-te a não pensar, apenas sentir, tal como ele o fazia, como ele o descrevia nas suas palavras. E tu deliciavas-te com elas. Via-lo a sorrir através delas....
Sorrias também... Esse sorriso envergonhado e ao mesmo tempo convencido. Sim, sabias muito bem que ele já só escrevia para ti, desde aquele primeiro texto, aquele primeiro olhar, o primeiro sorriso. E adoravas ser o centro da escrita dele. Comparava-lo ao outro, o das multiplas personalidades... O que consiguia brincar com as palavras para mostrar um sentimento apenas....
Ele, por outro lado, já quase não dava por ela que escrevia. Apenas sentia e deixava sair esse sentimento. Era a maneira de te mostrar tudo, o seu mundo; de te mostrar que eras tu o seu mundo.

"We might make love
in some sacred place
that look on your face
is delicate..."

17/06/2008

Menina da cara de anjo

Escusas de fazer esse sorriso inocente.. Sabes bem que já lhe deste a volta. Ou então foi o acaso que vos deu a ambos. O que é certo é que ele já não consegue pensar em nada senão em ti, no teu sorriso. Na cabeça dele já só há as vossas conversas, as coisas pequenas e simples que tu, (se calhar) inocentemente, dizes. As tuas palavras tornam-se as dele para agora ele as passar para o papel da maneira que tu mais gostas.
A vossa história é agora não mais que um conjunto de palavras que ele tenta organizar num sentimento, numa mistura melódica de frases, entoadas em Dó menor de sétima, com acordes daqueles que soam bonito e simples mas difíceis de reproduzir para toda a gente (excepto para vós)...
E tu sorris enquanto lês as suas palavras. Revês-te em cada uma delas como se fosses tu mesma a escrevê-las. Anseias (se calhar tanto quanto ele) por vê-lo uma vez mais, para mais uma troca de olhares, uma troca de sorrisos, mais uma troca (inocente?) de palavras...
Ele, por sua vez, deseja por mais... Tem fome de te ver, fome do teu sorriso, fome de um beijo que seja, de um carinho teu apenas.
Sem coragem para dar mais um passo, vão continuando a picardia. Tu deixas-te levar sem nunca avançar. A luta que travam entre vós continua aberta à espera que um de vós ceda e ponha, finalmente, todas as cartas em jogo. Mas continuas a não querer dar de ti. Continuas, inocentemente, com essa carinha de anjo a fingir que nada se passa, apesar de ambos quererem o mesmo...


(17-06-2008)

15/06/2008

(re)começos

Tinha prometido a si mesmo não voltar a situações já repetidas e pelas quais tinha tantas vezes desanimado. No entanto, agora era-lhe difícil fugir a toda esta situação. A imagem do teu sorriso percorria-lhe mais uma vez o pensamento. A memória do último (e para já único) café não o largava, restituindo-lhe o sorriso que há algum tempo tinha desaparecido.
Tu, inocentemente (ou talvez não) fazias-te mostrar presente. Ele, por sua vez, conseguia respirar fundo, ver o mundo a cores, sorrir de novo. O nervoso miudinho aumentava à medida que a ansia de te voltar a ver crescia.
Até a música, até agora sombria e chorosa, parecia mudar de cor e juntar-se a ti numa cumplicidade estranha e, ao mesmo tempo, sedutora. O concerto que querias ter visto soava-lhe nos ouvidos e ele apenas desejava que tivesses estado lá, só para te mostrar o seu mundo, os seus sonhos, o seu sentimento. O beat da bateria fazia eco do seu coração.
Mas calma!! Não queria voltar ao mesmo, não queria ter que cair mais uma e outra vez. Mas a tua música falava mais alto. As surpresas deste (teu) concerto eram cada vez mais inesperadas e saborosas. A maneira como compões a melodia deixa-lhe uma réstia de esperança num sorriso apenas. E como alguém costumava dizer: era apenas mais um sorriso, um só sozinho, que assim luzindo poria fim à tempestade.

[09-06-08]

03/04/2008

...

Ao fim ao cabo, ele apenas tentara devolver aquilo que lhe ofereceras. Era pelo menos uma tentativa de retribuição… Tinhas-lhe restituído o azul e o amarelo, o vermelho e o verde, e ele queria mostrar-te…

Nem sempre tudo lhe sai certo, já o sabes, mas agora sentiste-o na pele. No entanto, após mais uma nota fora da escala, voltou a atinar com a vossa melodia… E, com um sorriso, oferecia-te (de novo) o mundo, o seu mundo. A tela onde desenhava os seus traços e linhas é-te novamente oferecida.

Tu, ainda cabisbaixa, não sabias como reagir. Estaria tudo ainda quente par um só sorriso? Talvez não. E cedeste…

Num outro pedido de desculpas, ele mostra-te o que pode ser teu. Pobre em actos, mas rico em sentimentos, embrulha o seu coração em papel de jornal (não havia mais nada à mão…) e dá-to junto com um papel meio amarrotado cheio de palavras (palavras das que falam, cantam, riem, choram e beijam… As que mais gostas nele). Com um sorriso ainda ténue e furioso, aceitas, suspirando, mais uma vez, tocada por aquele gesto. Reclamas e dizes que te dá sempre a volta da mesma maneira, mas reconheces que é a única forma que ele conhece de se por a teus pés e entregar-se.

Não é uma vitória para ele, ambos o sabem. É apenas uma rendição (de classe, claro está, porque mais ninguém consegue fazer brilhar o teu sorriso por detrás das tuas lágrimas só com meia dúzia de palavras) … A melodia que ele entoa enquanto lês aquilo que te escreveu é prova disso. Mais uma luta que ambos ultrapassam com a certeza que, mesmo que haja próximas (não há mundos perfeitos e o dele não é excepção), o ciclo continua apenas porque há uma espécie de espírito guerreiro que os une (mais que isso, é chamado de sentimento) … E assim se vai construindo os castelos de areia, tentativa após tentativa, reconstruindo o que o mar acaba por deitar abaixo…

(01/04/2008)

11/02/2008

Viagens

Encostado à parede, com a guitarra no colo, entoava uma melodia simples e alegre! Desde há uns dias que não parava um pouco... Sentia-se finalmente feliz. A razão, essa encontrava-se estampada no seu rosto, naquele sorriso que ele tinha só para ti! Ah, era como uma viagem esse sorriso... Uma viagem a terras longíquas, pertencentes a um imaginário agora vosso! E tu, provavelmente mais sonhadora, sorrias também partindo junto nessa viagem que só vocês conseguem entender!

15/01/2008

Refúgios...

Já há muito que se habituara a refugiar-se nesse quarto, acompanhado pelo som melancólico anunciado pelas duas colunitas que ali habitavam.
Olhava uma e outra vez para a desorganizada disposição de pincéis, tintas e telas, para os seus instrumentos musicais, todos à espera de uma pontinha de inspiração. Se pudessem falar pediriam-te só mais um sorriso, um olá que fosse, ou mesmo até um beijo... Algo que o fizesse acordar do estranho sono de saudade que se apoderara dele sem pedir autorização.
A música, essa continuava, sorrateiramente, a preencher os cantos que permaneciam vazios, vazios de ti, apesar de nunca teres preenchido aquele espaço.
Porém ele continuava a sonhar... Sonhava que um dia te mostraria o seu canto, o seu refúgio... Os seus devaneios de inspiração, as suas companhias nos momentos de solidão... Sonhava poder partilhar-te com as suas telas, representar-te em tantos outros retratos...
Uma mensagem tua devolve-lhe o sorriso e fá-lo acordar.. De volta à realidade apercebe-se que apesar de se ter perdido no tempo, apenas passara breves minutos desde a última vez que tinha olhado o relógio. Suspirou fundo e olhou pela janela.. A chuva continuava a cair em grossas pingas...
Num suspiro, pegou no casaco e preparou-se para sair... Iria enfrentar o mundo tal como ele é, sem medo e preparado para a luta. A certeza era só uma, bom mesmo é continuar a receber o teu sorriso....

31/10/2007

Just the same old song...

Olho-me no espelho e revejo-me nas mesmas situações de sempre, como um peregrino que volta a casa após mais uma jornada e repara que tudo ficou na mesma.
Ainda há dias dizias-me que me vias com um sorriso. E num sorriso (teu) davas-me a certeza de tudo... Mas agora, neste silêncio, a imagem que enfrento só me coloca dúvidas... Bem que me aponta o dedo e me faz perguntas (daquelas que não consigo responder, apenas porque não tenho coragem), acusando-me de tudo. Maldita razão que a assiste!
No entanto, lá fora, o sol convida-me para um outro sorriso. Olho para a tua imagem e tu, como se quisesses mostrar que estás presente, associas-te à ideia e tornas-te seu cumplice.

28/04/2007

Ciclos....

Parou o tempo! E tudo o que existia parou também, admirados com esta celebração! E um abraço, que manda tudo de volta à realidade, faz-nos acreditar que não é um sonho... O mundo passou agora a girar à nossa volta, tudo sorri para nós! Mantenho-te nos meus bracos, fecho os olhos e sinto-te sorrir. Sorrio também. Sabe tão bem voltar a viver!
[27-07-05]

23/01/2007

Vontade(s)

Afinal sempre tinhas razão: era uma questão de vontade! E tu sorris quando digo isto, sei-o bem. No fim de contas és capaz de gostar tanto de mostrar aos outros (os que te rodeiam) aquilo que podem fazer como de o fazeres tu própria. E voltaste a mostrá-lo, até porque gostas de pegar pontinhos nas histórias que encontras.
Mas naquele dia a história ficou para trás... Nem percebi porquê! Apenas apareceu no meio de tanta outra coisa e eu só notei uma pontinha, uma presença, como que um risinho tímido de quem se quer fazer notar. E quando voltei a olhar, já lá não estava. Perdeu-se!
Vim a entender hoje que afinal tinha sido eu a perder-me. A história, no entanto, de certeza que continua ligada àquele jardim. Repousa no banco verde como todas as outras que por ali ficaram abandonadas ou esquecidas como quem espera algo. Mas eu não, não me esqueci! E tu voltaste a lembrar-me.
Volto ao parque à procura e reparo que afinal era apenas vontade, vontade de escrever, de deixar tinta no papel, de contar o que se tinha passado, apenas vontade de dizer algo. Era Apenas Mais Um como o outro, o primo (teu)...

Sim, mais um sorriso teu confirma que afinal era uma vontade (como as tuas). E era riso, era criança, era liberdade! Era apenas Vontade!

(Porque gostas disto e de tudo... E vontade não te falta. Afinal, apenas escreves!)

09/01/2007

Cores...

Havia dias assim, escuros e sombrios. De facto, nos últimos tempos eram mais noites que dias. Noites frias e melancólicas assombradas pela presença de memórias e lembranças.
Mas comecemos pelo início (ou pelo menos por este capítulo, a história é longa, remonta a tempos um tanto longínquos). Desta vez apareceste (ou fui eu que apareci... Não importa, ninguém o soube...) e trouxeste, por momentos, o cheiro a amarelo e azul, a verde, branco e vermelho. Voltou a saber a mar e a cheirar a verão. Voltou o brilho do olhar da criança que brinca no jardim. Ou pelo menos assim o senti (ou pensei)... Tão certo como o facto de teres voltado foi a certeza de não o teres feito. Não como eu queria. (Re)apareceste simplesmente, ou talvez nunca tivesses partido... Apenas reapareceu a tua imagem e o teu cheiro. E eu, como se quisesse, permiti a invasão (ou se calhar até a forcei). E agora não te quero ver partir...

05/01/2007

When the sun goes down...

O quarto permanecera intacto como se nada por ali passasse. De facto, desde que ele ali entrara, tudo se mantivera como se a sua presença fosse igual à de todas as outras criaturas que o habitam. Nem mesmo o choro que se instalara quando ligou a música os pareceu afectar. Já estariam habituados, de qualquer forma, a estes rituais. Habituados à sua solidão! Durante o dia quase ninguém lá para e, quando as luzes se apagam, a presença dele é como uma melodia triste, quase inexistente.
No meio do pó, os livros sussuram entre si, tentando acompanhar as melancólicas e já conhecidas melodias entoadas pelas colunas encostadas à janela. Essas, dizem eles, têm sorte ainda: conseguem admirar o mundo exterior para além daquele quarto abafado e sombrio ao qual os outros pertencem como que um bando de palavras ou um emaranhado de folhas esquecidas pelo tempo...

02/01/2007

Miradouro...

Ele olhou para o fundo da rua na esperança que ainda viesses... Num suspiro virou costas e subiu, cabisbaixo, a rua em direcção ao largo onde tantas vezes estiveram juntos. Uma sequência de memórias enchiam-lhe a cabeça. Histórias passadas eram agora não mais que um conjunto de imagens agarradas a todo aquele espaço onde se encontrava. Um banco, que muitas vezes tinha servido de testemunha de tantas outras histórias, parecia-lhe agora estranhamente vazio e solitário. Voltou a olhar para trás numa última tentativa de te encontrar... Como um último desabafo admirou o tão característico cinzento citadino e, num choro silencioso deixou-se levar pelo mundo da saudade num emaranhado de memórias...

30/12/2006

Vinicius...

A viola ainda soava naquele quarto escuro e melancólico... Os acordes entoados ainda há pouco fizeram-no parar! Ele nem fez contas ao tempo que ficou ali: 10, 15 minutos… 30 segundos… Simplesmente fechou os olhos e deixou-se ir numa viagem pela saudade. Visitou o teu sorriso (quente, brilhante, confortável, belo) e deixou-se encantar como da primeira vez que o viu!Abriu os olhos e voltou a olhar para a tua imagem! Um sorriso ténue aparece como resposta ao teu, abafando por momentos a tristeza de não te ter à beira…


"Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela
Não pode ser, diz-lhe numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso
Mais sofrer. Chega de saudade a realidade
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim..."